Seja bem-vindo. Hoje é

Gente Encantada

Que os Deuses te guardem na palma de suas mãos.Abençoadas/os sejam!

domingo

A PAPISA OU GRANDE SACERDOTISA



Olá Irmãs e Irmãos! Espero que o seu domingo tenha sido mágicko. O nosso assunto de hoje é o Tarô. E é o meu tema preferido porque estas cartas estão na minha vida há muito tempo.

Gostaria de dividir com vocês um pedacinho do livro Jung e o Tarô, escrito por Sally Nichols. É um livro imprescindível para quem quer aprender a Arte. Jung sempre foi o meu preferido pelo seu pensamento, pelos seus estudos sobre o Inconsciente Coletivo e pela grande influência de Schopenhauer em sua obra entre outros. Encontrá-lo neste livro aliado ao Tarô foi maravilhoso. Espero que vocês gostem também. Download do livro citado no final desta postagem.


A PAPISA OU A GRANDE SACERDOTISA

O Trunfo número dois do Taro retrata uma papisa de antiga e misteriosa origem Historicamente nunca houve uma papisa mas, por vários séculos, uma muher chamada "Papisa Joana" desfrutou de uma existência alegre na imaginação pública. Disfarçada de padre, esse personagem lendário finalmente subiu através das ordens para tornar-se papa. Ninguém suspeitava de que o "Papa João" era mulher, até que o fato, um dia, se revelou de maneira constrangedora. No meio de solene procissão papal, o "Papa João", de repente, deu à luz uma criança! Essa lenda não teve origem num fato externo mas, como todos os mitos, envolve uma verdade interior tão óbvia que é amiúde ignorada. A principal atividade criadora que distingue Joana de João — o fator relevante e revelador - é o parto. O gênio para fazer bebês é o poder secreto da mulher e sua fraqueza pública.
Se bem pudesse governar vastos reinos espirituais e temporais, o verdadeiro Papa João não poderia ter realizado esse milagre de todos os dias. O homem pode propagar e celebrar o Espírito Divino mas somente através da mulher o espírito se faz carne. É ela quem capta a centelha divina em seu ventre, a protege e alimenta e, finalmente, a gera na realidade. Ela é o vaso da transformação.
Do ponto de vista masculino da lei e da ordem, o ato criativo de Joana pode parecer um infeliz acidente que interrompe a procissão civilizada. Que choque há de ter sido o ver-se diante da sanguinolenta confusão da realidade - o infante a berrar e todos aqueles cueiros - no meio da pompa e circunstância! Que falta de consideração da Natureza desmazelada interromper tão rudemente a celebração do puro espírito! Mas até quando diz isto, o homem se vê obrigado a reconhecer a tremenda importância do poder da mulher. "Puro espírito" é puro disparate. A menos de ser apanhada, trazida ao terreno e instalada na realidade, a inspiração alada se espalha sem finalidade e sem propósito. Sem o nascimento não haveria procissão. A não ser que o espírito fosse realmente feito carne, a celebração papal não teria sentido.
Portanto, aqui, diante de nós na carta número dois, está sentada a Mulher. Embora chamada Papisa, não é literalmente a esposa do papa. Visto que, na seqüência, ela se segue ao Mago, que é um sábio revestido da dignidade sacerdotal, ou mago, podemos pensar nela como numa Suma Sacerdotisa, nome, aliás, que lhe dão alguns baralhos modernos. O Mago representa o yang primário, ou princípio criativo masculino. A Papisa pode ser vista como representação do yin primário, ou aspecto feminino da divindade. Personifica as qualidades de Ísis, Ishtar e Astarte, todas deusas que reinaram sobre os rituais dos mistérios das mulheres. Em seus aspectos espiritualizados surge como a Virgem Maria e como Sofia, a Sabedoria Divina. O seu número dois é um número sagrado para todas as divindades femininas.
A Papisa é uma figura feminina substancial, pesada, sentada - possivelmente entronizada. Ostenta as vestes cerimoniais e a tiara da Igreja, representando, assim, o poder espiritual além da sua pessoa individual. Segura na mão um livro aberto, sem dúvida um livro sagrado, simbólico da Palavra Divina.
Talvez esteja refletindo sobre o que acabou de ler. Talvez mantenha o livro aberto para podermos ver a Palavra... vede como estava escrito "no princípio''. Nos quadros da Anunciação, a Virgem Maria, não raro, se apresenta com um livro aberto; segura o livro dos Profetas, que lhe prediz o destino como portadora do Divino Infante. Aqui no Taro se diria que o livro tem significação semelhante, indica que, através da Papisa, o espírito será realizado, trazido à realidade. Tradicionalmente, não é a mulher quem faz a lei, ela é o instrumento da sua promulgação; não controla o próprio destino, que evolverá como estava escrito. A mulher não se põe a agir para procurar o seu fado, pois a essência do feminino é a receptividade. Não escolhe; é escolhida. Suceder-lhe-á como estava predito "no princípio".
A pala amarela que atravessa o peito da Papisa de um lado a outro pode indicar que ela aceita o
destino, que suportará o fardo com paciência bovina e servirá o espírito com humildade. A pala enfatiza o eixo horizontal da cruz, a dimensão da realidade terrena. Liga o direito ao esquerdo, o consciente ao inconsciente, unindo-os de um modo prático. De maneira semelhante, suas mãos se unem para segurar o livro da profecia; ela aceita a Palavra com todo o seu ser. Esse sentimento de compromisso ecoa na touca branca, parecida com a que ostentam certas ordens de monjas e as mulheres ao fazerem a primeira comunhão. Usada de um modo geral nos tempos medievais, a touca hoje se conserva como sinal de dedicação especial ao Espírito Santo. Esconde os cabelos da mulher, sua "glorificação", símbolo de atração sexual e de poder de sedução. A Papisa, porém, está enfeitada com uma tiara cravejada de jóias, que chama a atenção para uma glória mais preciosa do que os cabelos mortais, e cuja forma de colméia indica fertilidade perpétua, organização instintiva e nutrição doadora de vida. Suas três camadas mostram que esse poder se manifesta em todos os mundos: no celeste, no terrestre e mesmo debaixo d'água.
O toucado de três camadas também liga a pessoa que o usa à feiticeira de três caras, Hécate,
escura personagem pré-olímpica, de cujo domínio partilhará a Papisa nos três mundos. A dama do nosso Taro simboliza um requinte e uma espiritualização de natureza instintiva aparentemente muitas eras distantes da vingativa Hécate: sem embargo disso, a Papisa não se senta satisfeita no trono. O toucado em forma de colméia lhe serve de constante lembrete de que os instintos, contrariados, podem atacar com ferrões maldosos.. Atrás da Papisa estendeu-se um grande véu ou cortina sustentada por dois pilares, rapidamente vislumbrados debaixo do véu à sua direita e também debaixo do seu cotovelo esquerdo. É evidente que ela está sentada à entrada de alguma coisa - talvez um templo ou santuário íntimo, de cujos mistérios é a guardiã.
Podemos apreciar as qualidades misteriosas da Papisa colocando-a em contraste com o Mago,
retratado fora de casa, num campo aberto. Tudo nele - a forma de lemniscata do chapéu, a varinha
empunhada no alto por uma das mãos, a bolinha segura com tanta delicadeza entre o dedo e o polegar da outra mão, juntamente com os implementos e instrumentos do seu ofício sobre a mesa à sua frente - tudo sugere ação. Ele está em vias de fazer alguma coisa. Até os cabelos, com cachos dourados, caindo livremente debaixo do chapéu, parecem vivos. Sua posição com os pés espalhados é a do maestro no pódio, pronto para dirigir uma execução. Como o condutor, o Mago não está fixado permanentemente no lugar. Concluída a execução, mudar-se-á para outros campos. Tampouco está constrangido pelas limitações do tempo terrestre. As curvas extravagantes da lemniscata do chapéu ligam-no ao infinito - indicando que quem o usa tem aceso a dimensões mágicas de percepção impessoal, transcende as realidades mundanas do tempo e do espaço.
Não assim com a Papisa. Ela está quase enraizada no lugar, passivamente sentada, imóvel.
Sentimos que sempre esteve ali sentada e assim continuará até o fim dos tempos. Ao passo que o
chapéu e a varinha do Mago sugerem ação e experiência, a tiara e o livro dela indicam contenção e
tradição. Em contraste com a liberdade do Mago no espaço, os pilares da Papisa marcam as limitações da dura realidade.
O poder do Mago é o fogo: o poder quente, brilhante, rutilo do sol. O poder da Papisa é a água: o
poder frio, escuro, fluido da lua. Ele controla por meio da força rápida, do conhecimento e da idéia. Ela governa pela lenta persistência, pelo amor e pela paciência feminina.
Os pilares reiteram a dualidade expressa no número dois da Papisa. Sua essência é o paradoxo.
Ela abrange tudo, abarca assim o bem como o mal - até a vida e a morte. Ela, que é a mãe da vida,
também preside à morte, já que tudo o que vive na carne precisa, um dia, morrer na carne. Somente a luz não confinada do puro espírito é imortal.
A magia do Mágico, como o seu sexo, está na frente. A magia da Papisa, velada e oculta como os
seus cabelos, está escondida pelas cortinas atrás dela? Ou ela a guarda "debaixo do chapéu"? Ou a sepultou entre as águas do seu ventre? Onde quer que esteja escondido, o segredo da mulher, como o da natureza, permanecerá sempre oculto à penetração da consciência masculina. Na base da estátua de Ísis em Sais, estão inscritas as seguintes palavras: "Sou tudo o que era, que é, e que sempre será. Nem mortal algum jamais pôde descobrir o que jaz debaixo do meu véu." Dela é o reino da profunda experiência interior; dela não é o mundo do conhecimento exterior.
Sentimos que o poder do Mago está, de certo modo, sob o seu controle consciente, que ele pode
"usar de franqueza". Não é este o caso da Papisa: a natureza da sua magia está escondida até mesmo dela. Acontece, em parte, "nas suas costas", como está representado. Guardiã do nascimento e do renascimento, ela nos guarda mas não os controla.
Nas culturas primitivas, a mulher era vista como a única fonte da vida, porque não se considerava
o ato sexual ligado de algum modo à gravidez. Entendia-se que o homem não representava papel algum no processo da concepção. Era até conhecido como intruso, uma força destrutiva da criação, como está exemplificado mitologicamente na história do rapto de Perséfone. Uma vez que não se compreendia o papel do homem no processo da vida, cada mulher que engravidava havia de sentir-se misteriosa eincompreensivelmente escolhida pelos deuses. Como aconteceu a Maria, a notícia do seu destino devia parecer ter descido inexplicavelmente como anunciação do céu. O parto era um santo mistério, e um mistério da mulher. Os primeiros limites sagrados que se conheceram foram os destinados ao parto. Mais tarde, erigiram-se templos nesses sítios. Assim o princípio feminino personificado em Ísis, Ishtar, Astarte e, depois, em Maria, vieram a ser ligados não só ao nascimento no corpo, mas também ao renascimento numa nova dimensão de percepção, que transcende a carne.
Hoje em dia, a despeito da pílula, da educação sexual e da liberação das mulheres, o parto
continua a ser, graças a Deus, um mistério sagrado. O planejamento familiar é mencionado com
desenvoltura, mas a verdade é que cada gravidez ocorre (ou não) pela graça de Deus. Toda mãe em perspectiva, por mais disposta que esteja, ainda precisa ser escolhida pelo destino para assumir esse papel. O próprio acontecimento milagroso ainda é um mistério, e ainda é um mistério da mulher. Acontece a ela. Com o homem, o ato da propagação acontece fora dele, tanto física quanto psicologicamente. O homem pode procriar uma dúzia de filhos sem jamais ter conhecimento de que o fez. Mas, em se tratando da mulher, a concepção e o próprio filho acontecem dentro do seu corpo - no próprio centro do seu ser. A partir do momento em que ela concebe, quer o saiba quer não, a mulher está literalmente grávida de um filho. Seja qual for a sua atitude intelectual, no fundo do inconsciente de cada mulher a gravidez ainda é experimentada com uma anunciação profética. Para ela, cada nascimento é uma recriação do Divino infante. Parece significativo que as mulheres estejam começando hoje a restabelecer uma conexão consciente com a experiência do parto. Através do parto natural e de outras técnicas que dispensam o emprego de drogas, as mulheres permanecem conscientes no momento de parir, de modo que podem ligar-se emocional e espiritualmente à experiência e participar conscientemente desse supremo ato de criação. Mais significativo ainda é o fato de que os maridos, longe de serem excluídos do "recinto sagrado", são convidados a participar do ritual do parto e a partilhar da experiência como co-criadores.
Finalmente, a criatividade feminina e o princípio feminino (negado por um período demasiado longo em nossa cultura) estão conquistando os seus direitos.
A liberação das mulheres é encarada, às vezes, estreitamente, como um movimento que visa a
libertar as mulheres da maçada do trabalho de casa e dos preconceitos dos homens em todas as áreas da vida. Mas o que está sendo realmente almejado é a libertação, tanto dos homens quanto das mulheres, da subserviência ao princípio masculino, um dirigente cuja autonomia há muito estabelecida converteu-se em tirania para homens e mulheres ao mesmo tempo. Em seu nível mais profundo, esse movimento não é uma guerra entre os sexos mas, antes, uma luta árdua da parte de ambos os sexos para libertar a Papisa das masmorras do inconsciente e para elevá-la ao lugar a que tem direito como cosoberana do seu equivalente masculino. A atual revolução psicológica e social pode ser vista como a promulgação, em termos humanos, da Assunção da Virgem Maria, recém-dogmatizada pela Igreja Católica. Teologicamente, a Virgem tem agora um lugar seguro no céu à mão direita de Deus. Mas depois de séculos de genuflexão espiritual diante do princípio do pai (que dominou por tanto tempo nossa cultura judeu-cristã), é difícil, tanto para as mulheres quanto para os homens, dar o mesmo destaque ao princípio feminino.
Um dos nossos problemas pode ser que o conceito "igual mas diferente" é de aceitação difícil para
uma sociedade competitiva, em que cada pessoa, lugar ou coisa é instantaneamente computadorizada, avaliada e rotulada. Dir-se-ia que em nosso esforço por experimentar os sexos como iguais às vezes tendemos a obliterar-lhes as diferenças. Compreensivelmente, a atual fase de transição é uma fase de confusão para todos; mas parece particularmente assim para os que dentre nós fomos educados numa era em que as diferenças sexuais, por mais distorcidas que fossem pela cultura, eram claramente definidas. O mesmo não acontece hoje. Simples donas de casa passam por nós nos supermercados vestidas como alguma coisa saída dos Anjos do Inferno; heróis do futebol, antigamente pouco amigos das fitas do avental, agora posam para a imprensa vestindo o avental inteiro - e com os cabelos encaracolados! Mais desconcertantes ainda são os trajes e o procedimento uniformes do chamado unissexo, em que todos trazem cabelos compridos e blue jeans e todos carregam os próprios cobertores e mochilas; e não é fácil achar uma pista do verdadeiro sexo da pessoa.
Talvez não mereçamos nem precisemos saber quem é o quê (supondo, naturalmente, que os
próprios indivíduos tenham uma boa compreensão dos fatos da vida). Mas podemos compreender a
confusa admiração de Ogden Nash pela tartaruga, em que o sexo é similarmente escondido: "Creio que é muito esperta a tartaruga / sendo, em tais condições / tão fértil." E podemos esperar que esteja prestes a nascer um novo papel "igual mas diferente" tanto para os homens quanto para as mulheres. Um dos modos com que talvez possamos ajudar-lhe o parto é através de uma experiência mais plena e mais consciente do princípio feminino, por tanto tempo negligenciado, e da compreensão de como opera em todos nós, homens e mulheres.
Como primeiro passo, seja-nos permitido esclarecer a nossa terminologia. Não se pretende que os
termos feminino e masculino, tal como Jung os emprega, se correlacionem com a dicotomia fisiológica homem-mulher. Eis por que são úteis conceitos como yang-yin ou Logos-Eros, pois deixam claro que o que nos interessa aqui são dois princípios de vida, ambos os quais operam em todos os homens, em todas as mulheres e em toda a natureza. Entretanto, parece importante também conservar alguns tons harmônicos em nossa linguagem. O sexo é um paradigma na experiência humana para a compreensão dos opostos e sua transcendência final. Através da não-identidade da relação sexual chegamos a experimentar a força dinâmica dos opostos em nossas entranhas e, através do êxtase da sua reconciliação, vislumbramos sugestões de uma totalidade que transcende a carne moral.
Assim os termos masculino-feminino são usados aqui para denotar pólos positivos e negativos de
energia, cuja interação dinâmica propaga, motiva e ilumina nossas vidas. Por exemplo, assim como o corpo do homem tem características femininas secundárias, assim a sua psique - seus humores e
comportamento — sofre a influência do chamado lado feminino, a cuja personificação Jung deu o nome de anima. Quando o homem não tem consciência da sua anima, pode ser inteiramente dominado e destrutivamente influenciado por ela. Quando toma consciência dela e das suas necessidades, ela pode inspirá-lo e conduzi-lo à sua própria totalidade. Em termos junguianos, a Papisa representaria para o homem um desenvolvimento muito elevado da anima. Simbolizaria a figura arquetípica que o relaciona com o inconsciente coletivo. Sendo mulher, a Papisa seria uma forma altamente diferenciada de Eros; simbolizaria a feminilidade, um eu espiritualmente desenvolvido.
As muitas facetas da feminilidade espiritual não podem ser captadas em palavras, nem mesmo em
imagens; mas escolhi algumas ilustrações que podem ampliar e enriquecer o significado dessa carta.
Examinando essas imagens talvez possamos ligar-nos à "magia da Lua" em nós mesmos. Pois todos,
homens e mulheres, temos ao nosso alcance dentro de nós os poderes assim do Mago como da Papisa.
Se esses dois pólos não interagissem em nós não haveria vida - nem criatividade.



Abençoadas/os e Glorificadas/os sejam!


Karla




☽✪☾ Nas Mãos da Lua ☽✪☾

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá! Você estã Nas Mãos da Lua!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Krishna e Radha

Krishna e Radha

Lakshmi e Vishnu

Roda do Ano do Hemisfério Sul

Roda do Ano do Hemisfério Sul

Roda do Ano do Hemisfério Norte

Roda do Ano do Hemisfério Norte